A teoria da relatividade
Não sou eu quem vai explicar-vos no que consiste a teoria da relatividade de Einstein, mas posso tentar criar a minha própria teoria da relatividade.
Aqui vou tentar falar sobre aquilo que tenho percebido como sendo a maior dificuldade no mundo do fitness nos últimos anos: a quantificação do impacto das descobertas feitas através da ciência (e como isso pode afetar a forma como as comunicamos).
O apontar das cargas, o tempo de descanso, a "técnica" de execução do exercício como milagre para evitar as lesões, a necessidade extrema de superar a falha muscular e o quão rígidos temos de ser no cumprimento do nosso planeamento têm sido apresentados como "as coisas mais importantes do mundo" sugerindo que sem estes fatores torna-se totalmente impossível obtermos os benefícios de saúde (e mesmo estéticos) que o exercício permite alcançar.
No fitness (e mesmo na perfomance) ainda se vive numa bolha, dentro das nossas próprias filosofias e onde procuramos arrastar as pessoas para a nossa maneira de pensar. Pergunto-me: estará isso correto?
O que é que a maioria das pessoas procura? Ter 50cms de braço e um sixpack todo traçado ou, por outro lado, simplesmente não ter uma pancinha e que seja aparente que são pessoas cuidadas e que treinam? Daquilo que eu tenho vindo a aperceber-me, a grande maioria das pessoas encontra-se mais na segunda hipótese, e mesmo as que se encontram na primeira começaram por traçar objetivos mais humildes e foram aumentando aos poucos as suas ambições.
E devemos ainda tentar olhar para o ponto de situação e explicar as coisas como elas são: a grande maioria das pessoas está num ponto onde independentemente da metodologia (desde que não seja muito absurda), da técnica de execução (se for ao encontro do objetivo procurado), de apontar ou não as cargas (desde que vá tentando superar-se ao longo do tempo) e muitas outras variáveis que vamos adjetivando de estritamente essenciais, alguma evolução vai acontecer, mesmo que seja um bocadinho mais lenta - e muito provavelmente sem lesões graves no curto prazo. A maioria das pessoas não treina com intensidade suficiente para conseguirem sequer aleijarem-se, e estão tão longe do seu potencial genético que com qualquer coisa que façam vai fazer com que melhorem comparativamente ao que estavam aquando sedentários.
Quero dizer com isto que essas coisas não são importantes? Não, claro que ter um planeamento realmente bem estruturado, uma técnica que se aproxime ao máximo do nosso objetivo, um aproximar da falha que cumpra com os nossos requisitos e um compliance que vá ao encontro do que foi pré-estabelecido fará com que a probabilidade de progressão seja extremamente alta e que a velocidade da obtenção desses mesmos resultados também aumente, mas temos de saber relativizar as coisas.
Até certa altura, apenas trabalhava-se com tempos de descanso entre séries baixíssimos. Entretanto saíram estudos que mostravam que tempos maiores de descanso apresentavam maiores resultados para a hipertrofia, já que permitiam a utilização de maiores cargas durante o treino - e todos os treinos com tempos de descanso entre séries inferiores a 5 minutos já eram considerados "treinos fofos" e completamente desajustados. Já este ano saíram novos estudos que procuraram comprovar que, desde que o volume fosse mantido (ou seja, se em cada série utilizas menos carga devias fazer mais séries para igualar o volume feito por alguém que utilize intervalos maiores entre séries), então os resultados pareciam ser incrivelmente similares. Para mim, isto só significa uma coisa: que a diferença entre as metodologias é baixíssima, senão era clara a superioridade de uma coisa em relação à outra. Aqui prende-se uma questão - qual a metologia em que te sentes melhor e, porque não, ir variando as metodologias em diferentes microciclos/macrociclos de treino?
O que eu quero dizer com tudo isto? Que cada pessoa tem o seu nível de treino e os seus objetivos e devemos trabalhar de acordo com essas duas coisas... E a nossa maior importância, dos profissionais do exercício físico, não está no saber qual a melhor metodologia do mundo, mas sim na capacidade de fazer com que uma pessoa saia do sofá e que prefira estar connosco do que a ver uma série da Netflix. Temos, acima de tudo, de ser alguém que as pessoas sabem que não nos vai ser indiferente se elas faltam ao treino ou não, se estão a cuidar de si ou se andam simplemente a ser acionistas do nosso negócio.
"A melhor maneira de mostrarmos a alguém que nos preocupamos com ela é - imagem vocês - preocuparmo-nos genuinamente com elas."
A consistência por si só, mesmo que sobre algo "semi-ajustado", fará com que estejas bem à frente da maioria das pessoas que tu conheces, e isto é aplicável a quase todas as áreas da nossa vida.
E tu, tens sido consistente?