Mudar de método
Está tudo a correr bem, pelo menos é o que parece. Na verdade, uma das coisas mais engraçadas de estabelecer um objetivo é que sabemos logo à partida que existirá outro a seguir. Não existe um ponto final até ao fim das nossas vidas.
A empresa está a ser construida, parece que estão sempre a aparecer coisas novas a cumprir para ser tudo cumprido à regra, sem ter medo de errar nem dever nada a ninguém, mas estou cada vez mais perto de poder apresentar tudo a toda a gente. Cada vez que dou um passo em frente surgem novas adversidades, novos problemas, e o "one man show" que tenho vivido acaba por dar-me uma bagagem que certamente será transportada para muitas outras coisas na minha vida. Penso, ainda, na essência da minha empresa e pergunto-me todos os dias: como é que existem tantos negócios pequenos que conseguem manter a casa aberta?
Esta passagem pelo empreendedorismo, que já tenho vindo a traçar nos últimos anos, fez-me apreciar todos aqueles que têm a coragem de trabalhar num negócio onde trabalham muito, têm muitos gastos, ganham pouco e ainda pagam uma batelada de impostos, sabendo que isso não lhes garante nem serviços públicos de grande qualidade (ou até mesmo a sua disponibilidade imediata) nem mesmo um subsídio de desemprego se as coisas correrem mal - por muito que tenham descontado imenso para a SS.
Na prática, o que vivemos é o seguinte:
-Tiveste lucro? Somos socialistas, o lucro não é teu - é nosso!
-Tiveste prejuízo? Somos capitalistas, o risco és tu que assumes.
E, posto isto, a noção que nós temos de empresas muda completamente quando criamos uma: é preciso faturar muito para conseguir retirar um salário minimamente decente para nós e é preciso um funcionário acrescentar muito valor à empresa para compensar o gasto. Nesta fase, o único funcionário efetivo da minha empresa sou eu, mas o objetivo é alastrar a empresa e acrescentar outras valências, de forma fixa e efetiva. Para isso, sei que tenho de poder pagar na proporção do valor que acrescenta à empresa, mas agora entendo que não só os patrões que são os "maus da fita": São 12 meses do ano de faturação, pagam-se 14. Em cima disso, paga-se ainda TSU, IVA, IRC... São mesmo muitos encargos, encargos esses que quem começa a trabalhar nem sequer tem noção de que existem.
A posição de "patrão" acaba por ser ingrata: faz-se o trabalho que devia ser feito por mais pessoas, pedem-se empréstimos com taxas de juro altíssimas ou investe-se capital próprio para iniciar o negócio (que se poupou durante anos para conseguir), muitas vezes nem se retira um salário e ainda tem-se a responsabilidade de garantir que todos os contratos/acordos são cumpridos com rigor - por nós e por quem trabalha connosco.
E o que é que as odds indicam: muitas das empresas nem do primeiro ano de existência passam. É triste, não é?
Claro que existem inúmeros casos de sucesso, senão ninguém passaria por isto: para quê?
Eu posso dizer-vos claramente as minhas intenções com esta empresa:
1) Ajudar pessoas que estão na mesma situação que eu a ajustarem o treino e nutrição à sua rotina - O treino é o momento do dia onde eu desligo destas coisas, onde não penso na empresa ou noutra coisa qualquer - apenas em mim: no meu bem estar, em ficar forte, em ficar mais capaz. Percebi que o treino e alimentação ajustados permitem-me sentir mais confiante da minha imagem, das minhas capacidades físicas e mentais e ainda a gerir o stress de forma muito mais eficiente - o que leva a que eu consiga trabalhar mais, melhor e ainda a organizar melhor as minhas ideias (e aumentar a faturação como consequência disso).
2) Criar um serviço ligado ao Fitness, Treino e Nutrição baseado em ciência, evidência e experiência - totalmente legalizado e com um padrão de qualidade realmente premium. Quero que cada cliente nosso entenda que é especial para nós e que não é apenas mais um número - menos clientes mas com padrão altíssimo de qualidade é a chave dos nossos serviços, aliando a isso a clareza fiscal e a não fomentação da economia paralela. Sei que ter tudo em pratos limpos perante a justiça, as finanças e a segurança social tem um preço alto a pagar, mas acredito que não o ter possa ter um preço ainda maior no longo prazo - é no longo prazo que as grande mudanças acontecem. Não quero seguir o padrão baixo associado a esta área, quero ser um exemplo de como é possível crescer independentemente das adversidades apresentadas - isso apenas é possível com competência e, talvez, com um bocadinho de sorte.
3) Ganhar dinheiro: vamos ser realistas, se me dissessem que iria investir tanto do meu capital próprio, trabalhar tantas horas, andar sempre com a sensação de ter o "coração apertado" (espero que isso passe entretanto) e ainda arriscar trocar aquilo que é "certo" pelo incerto, diria que teria de ter um ROI financeiro associado. Ninguém vive de ar e vento, isso é um facto - e sei que a estabilidade financeira não era uma coisa possível na situação onde estava: o que perco em tentar mudar isso?
E eu posso ainda dizer que muito desta ideia começa da conversa que tive com o Eduardo Rangel no meu podcast, onde discutimos a questão da emigração jovem em Portugal, onde o Eduardo acaba por sugerir que os jovens criassem os seus próprios postos de trabalho, acrescentando valor à nossa economia e não esperarem que as oportunidades de trabalho caiam do céu. Link para a conversa: https://open.spotify.com/episode/5Htk6oqUQOmjCnxtoF14xG?si=310ac84b34eb45ee
Posto tudo isto, eu tenho enfrentado imensas dificuldades neste processo, mas estou mais motivado do que nunca. É difícil, mas que isto sirva mais para motivar-te do que para desmotivar - quais são os problemas que enfrentas todos os dias e que acreditas ser capaz de resolver? E, porque não, criar uma solução e lucrar em cima disso?
São tempos novos, temos novas ferramentas à nossa disposição e somos uma geração super capaz e preparada para desenvolver e criar excelentes ideias. O mundo está em constante mudança, é preciso mudar de método.