S&Me 500

Tiago Gomes
Aug 04, 2024Por Tiago Gomes

O sistema bancário é algo que eu acho fascinante. O mesmo dinheiro que nós colocamos no banco, parado, onde recebemos uma taxa de juro de 0,01% ou pouco mais, é depois emprestado a outras pessoas com taxas de juro que ultrapassam os 10% - dependendo do fim, obviamente. E isso faz com que circule uma quantidade de dinheiro bem superior aquela que realmente existe, e isso implica que se todos nós quisessemos retirar o nosso dinheiro do banco ao mesmo tempo, esse dinheiro pura e simplesmente não existiria. Curioso, não é?

E por essa questão, pela taxa de juro baixíssima que os bancos "oferecem" a quem lhes confia o seu dinheiro, taxa essa bem inferior à da inflação, sempre procurei conhecer formas de colocar o meu dinheiro a render em algo mais lucrativo: e porque não no instrumento financeiro que historicamente tem vindo a ser mais equilibrado entre lucro e pouco risco no longo prazo? - como dizem todos, talvez por motivos legais: isto não é nenhuma conselho financeiro, ok?

O S&P500 foi a opção que pareceu-me mais vantajosa, mas um dos princípios básicos dos investimentos é que não devemos colocar todos os ovos na mesma cesta, ou seja, devemos variar o nosso portefólio.

Tendo isso em conta, o conceito de S&Me 500 foi algo que ouvi há relaticamente pouco tempo, mas que despertou em mim um interesse enorme: já pensaram que investirem em vocês mesmos pode render um juro bem superior a 10% ao ano? Não que só tenha começado a investir em mim há pouco tempo, simplesmente fiquei mais consciente em relação a isso.

No S&P500 apenas conseguimos investir uma coisa: capital. E vamos ser honestos, se tens menos de 30 anos a probabilidade de teres muito capital para investir é praticamente nula. Quando pensas em investir em ti tens mais um trunfo enorme na manga para aumentares este retorno: energia. Sim, isso mesmo, nós que somos jovens temos menos capital mas temos muito mais energia para evoluirmos, e para isso temos de permanecer neste ciclo de repetir-analisar-melhorar-repetir durante anos e anos, até que consigamos de facto ser mais capazes do que éramos. 

E quando pensamos no nosso skill set, no desenvolvimento das nossas capacidades, devemos pensar que estas ficam sempre connosco, o acumular de skills acaba por ser transversal de umas coisas para as outras: é o juro composto do S&Me 500! 

Se formos ficando mais valiosos para a nossa empresa, há uma enorme probabilidade de sermos também muito valiosos para outras, o que faz a lei da procura e da oferta funcionar: porque é que o CEO do Pingo Doce ganha 288 vezes mais do que os restantes funcionários? Porque é muito menos substituível do que 288 funcionários, acho que isto é facilmente explicável: se 288 funcionários do pingo doce saírem da empresa, basta abrir vagas de emprego com um salário ligeiramente acima da concorrência para atrair novas pessoas para esse posto de trabalho. O ponto é, sair uma pessoa e entrar outra não muda a estrutura da empresa, porque as skills necessárias para desempenhar aquele trabalho não são assim tão complexas. Agora, substituir o CEO de uma empresa pode levar à tomada de decisões capazes de arruinar a empresa, neste caso mandando mais de 30000 pessoas para o desemprego. Tudo isto porque as skills para desempenhar aquele trabalho são bem mais complexas.

Quanto mais complexo/difícil é aquilo que tu fazes, menos concorrência tens, e investires em ti leva-te a aumentares o teu conhecimento e capacidade, tornando-te menos substituível. 

Todos nós conhecemos pessoas que desde que acabaram os estudos nunca mais procurar adquirir conhecimento. Aliás, nem leram mais nenhum livro da área! Essas pessoas não sabem, mas a inflação também chega para elas: novos talentos, que trabalham com o dobro do afinco acabam por reduzir o gap entre a experiência e o conhecimento, deixando para trás os mais velhos - que depois sentem-se injustiçados por já não terem lugar no mercado de trabalho. Pergunto-me: será mesmo injusto?