Um loop infinito

Jul 25, 2024Por Tiago Gomes
Tiago Gomes

Assumo ter duas características que em conjunto tornam-se uma receita para a catástrofe: ao mesmo tempo que sou ansioso e impaciente, não faço nada sem pensar nas consequências que podem daí advir no longo prazo. E porque é que isto é catastrófico? Porque, normalmente , as coisas que proporcionam maior prazer no imediato acabam por ser as mais prejudiciais no longo prazo.

Eu invejo pessoas que conseguem adormecer mais cedo do que o normal por terem de acordar mais cedo no dia seguinte. Eu faço precisamente o contrário disso: se sei que tenho de acordar mais cedo fico ansioso e não consigo adormecer. Pior ainda fica o cenário quando tenho uma "pedrinha" a dormir do meu lado, dou por mim a remexer-me enquanto penso no quão egoísta seria se a  acordasse por causa das minhas insónias ou falta de cuidado. E o mesmo aplica-se noutras coisas da minha vida: se eu tenho uma ideia qualquer a meio da noite, não consigo dormir sem escreve-la no computador, sinto um aperto no peito se passar-me algo pela cabeça e não o disser imediatamente, pelo facto de poder esquecer-me daquilo que tinha pensado (que normalmente não agregaria valor nenhum ao mundo). É a minha sina, talvez.

Posto isto, por tanto pensar no futuro, tão longínquo que torna qualquer pensamento que eu tenha improvável de acontecer, começo a achar que já entendi qual será o momento ideal para mudar de área ou, se a vida o permitir, deixar de trabalhar: quando achar que investir já não compensa o risco.

Eu tenho olhado para aquilo que tem sido o desenrolar da minha vida profissional e percebo que quanto mais cresço profissionalmente, mais invisto para, aos poucos, conseguir fazer mais e melhor. No que é que isso resulta ? O que é que isso agrega à minha vida? Talvez sinta-me melhor por ter maior conhecimento em determinado assunto ou por receber cada vez mais feedbacks positivos, mas financeiramente falando: o retorno é lento, dada essa proporcionalidade entre income e investimento, com uma visão a longo prazo, prazo esse que parece não ter data de validade.  

Acho alguma piada aos projetos que tenho escolhido para a minha vida: como é que alguém tão ansioso pode escolher áreas onde estabilidade e baixo risco não fazem minimamente parte do quotidiano? Ou pior, o facto de ter escolhido áreas onde a competição é feroz e onde, como se costuma dizer, de bestial a besta é um instante? Para muitos, aquilo que realmente  interessa é o que os outros pensam que sabes e não aquilo que efetivamente sabes, o "fazer carreira" acaba por ser em si só um trabalho diferente daquilo que é o nosso, são quase percursos que não se cruzam. Pergunto-me, e gostava que te questionasses a ti também: preferies colher os poucos frutos que tens disponíveis agora ou plantar as sementes desses mesmos frutos, sabendo que aquele solo pode não ser fértil ou podem vir ventos fortes, incontroláveis, que destroem aquilo que semeaste sem sequer rigorosamente nada?

Agora vem a parte mais intrigante de tudo isto: como é que não há nada que me preencha mais do que esta adrenalina de competir, de haver sempre a possibilidade de tudo correr mal e desabar de um momento para o outro? Como é que este "stress basal" pode acabar por ser a força motriz da minha vida, e a ausência desse stress deixa um vazio que só preenchido com a busca de um novo risco para assumir? 

Será que chegará o dia em que vou realmente acreditar que investir já não compensa o risco?

Sou novo, isto vai passar. Pelo menos é o que dizem... 

(E eu espero que estejam equivocados)